Sou a terceira de 5 filhos que os educadores sociais Guilherme Paschoalick e Maria Alzira Corrêa Paschoalick tiveram.
Sou a de vermelho da direita, na época tinha 9 anos, meu irmão Guilherme, hoje dentista, era bebê e está no colo de minha tia materna Joanita, minha irmã Zelinda é a pequena menina de 5 anos no colo do papai, a de colar azul é minha irmã, a sempre elegante, Maria Eliza e a de blusa florida a Beth.
Crescemos no Instituto Agrícola de Menores de Batatais onde mamãe era professora alfabetizadora de meninos de todas as idades (talvez aí tenha nascido minha crença de que todos os seres humanos são capazes de se alfabetizar – o que precisa é ambiente de letras e valorização das conquistas- assim como o professor dominar diferentes maneiras de ensinar).
Papai, também no mesmo Instituto, moravamos lá, era mestre profissional e tinha a incumbência de soltar na rua os menores que faziam 18 anos já profissionalizados e capazes de exercer uma profissão. (E ele levava isto muito a sério acreditando na recuperação dos menores abandonados ou presos por medidas corretivas, hoje sócio-educativas).
Por ser um Instituto Agrícola as profissões que papai desenvolvia com os internos eram: apicultura, jardinagem, zootecnia, padaria, marcenaria e eu aprendi a fazer contas ajudando meu pai a calcular os juros e porcentagens em uma ficha que ele inventou em uma cooperativa que ele inventou para os meninos ganharem um dinheiro e ao saírem com 18 anos terem um dinheirinho na poupança. (Coisas de ilusionário da década de 50-60 na extinta FEBEM-SP)
Mas estou escrevendo este artigo para publicar um trecho do livro “O Arroz de Palma" de Francisco Azevedo que li no blog de minha amiga Alessandra Rocha.
"Família é prato difícil de preparar. São muitos ingredientes. Reunir todos é um problema... Não é para qualquer um.
Os truques, os segredos, o imprevisível. Às vezes, dá até vontade de desistir... Mas a vida... sempre arruma um jeito de nos entusiasmar e abrir o apetite.
O tempo põe a mesa, determina o número de cadeiras e os lugares.
Súbito, feito milagre, a família está servida.
Fulana sai a mais inteligente de todas. Beltrano veio no ponto, é o mais brincalhão e comunicativo, unanimidade. Sicrano, quem diria? Solou, endureceu, murchou antes do tempo. Este é o mais gordo, generoso, farto, abundante. Aquele o que surpreendeu e foi morar longe. Ela, a mais apaixonada. A outra, a mais consistente... Já estão aí? Todos? Ótimo.
Agora, ponha o avental, pegue a tábua, a faca mais afiada e tome alguns cuidados.
Logo, logo, você também estará cheirando a alho e cebola. Não se envergonhe de chorar. Família é prato que emociona.
E a gente chora mesmo. De alegria, de raiva ou de tristeza. Primeiro cuidado: temperos exóticos alteram o sabor do parentesco.
Mas, se misturadas com delicadeza, estas especiarias, que nos parecem estranhas ao paladar tornam a família muito mais colorida, interessante e saborosa.
Atenção também com os pesos e as medidas. Uma pitada a mais disso ou daquilo e, pronto: é um verdadeiro desastre.
Família é prato extremamente sensível. Tudo tem de ser muito bem pesado, muito bem medido.
Outra coisa: é preciso ter boa mão, ser profissional. Principalmente na hora que se decide meter a colher.
Saber meter a colher é verdadeira arte. Uma grande amiga minha desandou a receita de toda a família, só porque meteu a colher na hora errada.
O pior é que ainda tem gente que acredita na receita da família perfeita.
Bobagem. Tudo ilusão. Não existe Família à Oswaldo Aranha; Família à Rossini, Família à Belle Manière; Família ao Molho Pardo (em que o sangue é fundamental para o preparo da iguaria).
Família é afinidade, é à Moda da Casa. E cada casa gosta de preparar a família a seu jeito.
Há famílias doces. Outras, meio amargas. Outras apimentadíssimas. Há também as que não têm gosto de nada, seria assim um tipo de Família Dieta, que você suporta só para manter a linha.
Seja como for, família é prato que deve ser servido sempre quente, quentíssimo. Uma família fria é insuportável, impossível de se engolir.
Enfim, receita de família não se copia, se inventa. A gente vai aprendendo aos poucos, improvisando e transmitindo o que sabe no dia a dia.
A gente cata um registro ali, de alguém que sabe e conta, e outro aqui, que ficou no pedaço de papel. Muita coisa se perde na lembrança.
Principalmente na cabeça de um velho já meio caduco como eu. O que este veterano cozinheiro pode dizer é que, por mais sem graça, por pior que seja o paladar, família é prato que você tem que experimentar e comer. Se puder saborear, saboreie.
Não ligue para etiquetas. Passe o pão naquele molhinho que ficou na porcelana, na louça, no alumínio ou no barro.
Aproveite ao máximo.
Família é prato que, quando se acaba, nunca mais se repete.
(Trechos do livro "O Arroz de Palma" de Francisco Azevedo)
Agradeço a Deus pela minha família.
Um beijo em todos os meus irmãos, sobrinhos, netos, sobrinhos netos.
Meu pai colocou o mesmo nome em nós três as filhas mais velha para que ao chamar:
Eli... za ... beth ... as três correcem a ver o que ele desejava.