Com esta argumentação, a educadora Ely Paschoalick escreve
comentários sobre a necessidade de junto à implantação do ensino de tempo
integral e do uso de tecnologia nas mãos dos alunos, faz-se também necessário
mudar os paradigmas que norteiam a falida educação que hoje se apresenta.
Professor indiano Salmon Khan por ocasião de sua visita ao Brasil
Khan Academy é uma
organização não governamental que tem como objetivo contribuir para a melhoria
da educação por meio de vídeo aulas online disponibilizadas gratuitamente. Além
dos vídeos, o site conta com um módulo de exercícios e um painel que permite ao
usuário acompanhar seu desempenho. Todo conteúdo é aberto.
A Fundação Lemann, em parceria
com o Instituto Natura e o Instituto Península, está trazendo a Khan Academy
para o Brasil, traduzindo os vídeos de aritmética, biologia, química e física
para o português e levando a ferramenta para as escolas públicas.
O Ministério da Educação do
Brasil disponibilizará tais vídeo aulas
para professores, alunos e população em geral.
Até aqui estes três parágrafos
nos contam avanços tecnológicos importantes e revolucionários, tão
significativos quanto à invenção do avião. Mas não é aí que reside o perigo.
Assim como os aviões são para o
transporte, as vídeo aulas são instrumentos preciosíssimos para o entendimento,
assimilação e memorização dos conteúdos ministrados nos currículos de quase
todo o planeta.
Como as vídeo aulas serão
utilizadas, o que irá acompanhá-las, como será a atuação dos educandos e educadores
junto a estes instrumentos é que se constitui a questão que requer maior bom
senso e, sobretudo, fundamentação teórica educacional capaz de quebrar velhos
paradigmas e construir uma escola que privilegia a autonomia e a construção de
um cidadão que seja capaz de ser, conviver, fazer e aprender com
sustentabilidade e também com felicidade e realização.
Neste sentido, fiquei muito
preocupada com o discurso de nosso ministro da educação em rede nacional sobre
a utilização das vídeo aulas da Khan Academy:
"... especialmente dentrodo programa de educação em tempo integral que é o + educação, onde as criançastêm 4 horas/aulas obrigatórias do turno regular e mais 3 horas complementares.
Nestas 3 horas complementares você utilizaria esta metodologia, permitindo
reforço pedagógico ao aprendizado digitalizado e avanço no processo de
formação”.
Ministro da Educação Prof. Eduardo Mercadante
Preocupei-me, pois neste trecho
do discurso o senhor ministro enfatiza que teremos mais uma mudança para não
mudar nada.
Os paradigmas nos quais se
alicerçam o falido sistema mundial de ensino continuam a vigorar: aulas de
diferentes assuntos com o mesmo tempo pré-determinado, grupo de alunos
atrasados, alunos adiantados, 4 horas de turno regular, 3 horas de atividades
complementares.
Desta maneira, em minha opinião,
a educação em tempo integral, uma das prioridades para o Brasil neste novo
século, será um esforço financeiro e político de toda a nação desperdiçado, já
que nossas escolas continuarão com suas salas de aula semelhantes a panelas depressão, com seu sistema de exclusão predominante sobre a inclusão e outras
mazelas que se apresentam hoje.
Necessitamos urgente que se construam
novos paradigmas e já temos, no Brasil, experiências de sucesso que avançam dia
a dia pelo caminho da “formação de pessoas e cidadãos cada vez mais cultos, autônomos,
responsáveis, solidários e democraticamente comprometidos na construção de um
destino coletivo e de um projeto de sociedade que potencializem a afirmação das
mais nobres e elevadas qualidades de cada ser humano” (Projeto Educativo Ancora em São Paulo).
Se nossas escolas praticarem ações
que efetivamente respeitem os princípios acima citados, as vídeo aulas do Prof.
Kahm e os atraentes tablets já adquiridos pelo Ministério de Educação (mas isto é outra história que fica para o próximo artigo) para serem
distribuídos aos professores serão ricos instrumentos nos projetos
instrucionais de nossos alunos, mas se continuarmos nos paradigmas demonstradospelo senhor ministro em seu discurso oficial, creio que será o caos do caos.
Quando o senhor ministro termina seu discurso afirmando um avanço
na formação de nossos alunos, eu lanço um questionamento a
toda à nação:
Que tipo de formação será
essa? Vivemos na era da importância da informação, mas esta sozinha não garante
formação de cidadãos plenos.
Ou fazemos um movimento para o programa mudar de nome
trocando de + educação para + informação, ou fazemos nosso ministro repensar a
filosofia dele e implantar um sistema de ensino integral, com TEMPO E
ESTRATÉGIAS para a FORMAÇÃO DA CIDADANIA que é o que nossas crianças e jovens
estão precisando.
É urgente que a polêmica seja maior, porque é necessário
livrarmos nossas crianças deste ensino integral restrito que querem implantar eimpor, pois caso contrário, as novas tecnologias serão apenas mediadoras de
bombas atômicas em nossas instituições escolares, e haverá uma devastação maior ainda do que a vigente.
ElyPaschoalick