Desde 2011 resolvi viver
viajando. Empacotei minha casa, etiquetei os caixotes: livros tais, apostilas
tais, panelas, copos, etc. Coloquei tudo num depósito de uma fábrica de um
amigo em Uberlândia/MG, cidade que me acolheu nestes últimos 30 e tantos anos
dos 62 anos de minha curta vida.
Separei uma mala de roupas de
inverno, uma de roupas de verão, uma sacola de sapatos, uma mochila com meu
computador e comecei minhas andanças... Portugal, Inglaterra, Alemanha, Suécia,
Brasília, Tupaciguara, Capinópolis, Prata, Curitiba, São Luiz do Maranhão, Fortaleza,
Cariacica... Onde tenho amigos vou, onde me chamam lá vou eu como aprendiz da
vida!
Ah! Meus diplomas foram
registrados na plataforma Lattes e muito bem embalados em sacos de lixo e
armazenados na garagem da casa de minha irmã Maria Eliza em São Paulo. Que
destino hein?
A coleção de exemplares da
revista que eu escrevo, Visão Missionária SEMAP, juntamente com meu material de
psicopedagogia foram guardados pela minha querida irmã de oração Dorinha, onde
me hospedo toda vez que estou em Uberlândia.
Neste contexto escolhi passar uns 3, 4, 5
meses em São Paulo para exercer meu aprendizado fomentando o III Manifesto pela
Educação nesta cidade condenada ao retrocesso educacional desde 19 de agosto de
2013, data em que o senhor prefeito lançou as novas grades que enjaularão os professores e alunos paulistanos em 2014.
Quem viver verá a rede pública escolar
da maior metrópole da América do Sul continuar a condenar seus jovens ao Vale do
Nem: nem estudantes e nem profissionais e a gerar “filhos de peixe sendo
peixinhos” e filhos de analfabetos sendo analfabetos funcionais. E em suas propagandas eleitoreiras afirmar que há avanços educacionais.
E agora, falando em prefeito,
prefeitura, chego em meu assunto: Fui passear na Avenida Paulista, mas quando
lá cheguei encontrei a Paulista Street.
A prefeitura montou, com a
máquina pública e o dinheiro público, uma grande passarela que toca em
altíssimo tom canções americanas de amor, com cantores americanos, com
sentimentos americanos... e tudo mais que os americanos gostam.
Fiquei imaginando se no lugar
daquelas lindas canções americanas o meu povo brasileiro estivesse ouvindo
Pixinguinha; se algum de nossos artistas de linda voz estivesse declamando “Poema
de Natal” de Vinícius de Moraes; se uma orquestra sinfônica levasse ao ar o
harmonioso som das Bachianas brasileiras de Heitor Villa Lobos; se corais de
múltiplas vozes de brasileiros e brasileiras entoassem lindas canções de nosso
cancioneiro popular; se uma orquestra sanfônica interpretasse Luiz Gonzaga em
homenagem a todos os nortistas que constroem a grande metrópole brasileira; se
uma orquestra violônica (para continuar construindo a língua: sanfônica, violônica...) dedilhasse
chorinhos...
Continuei navegando no meu
coração nacionalista e pensando no “complexo de vira-latas” que nossos governantes
teimam, desde os tempos de Nelson Rodrigues (1958) fortalecer dentro de nós quando ... Deparei-me com as corsas, renas, elefantes,
girafas... e novamente me perguntei: onde estão os tamanduás, os jacarés, lobos
guará, saguis, papagaios, sapos, cobras e lagartos?
Na foto a flor do alho e o sapo Godofredo flagrados no jardim da Claudia Duarte
e José Pacheco.
Vamos pensar em estrangeiros?
Então que tal Maria Bethania interpretando “Poema do Menino Jesus” de Fernando
Pessoa?
Não, senhor prefeito! Tais
pensamentos nacionalistas não passaram pela sua Secretaria de Cultura!
Gostaria
de saber qual é a intenção: Retrocede as escolas ao britânico século XIX,
coloniza a Paulista com o consumismo americano... Pão e Circo para um povo que
se sacrifica para comer brioche no natal? Tudo em nome da reeleição no Planalto Central?
Que os lojistas, shoppings e
edifícios enfeitem, com seus ricos dinheirinhos, os cenários colonialistas das
festas com suas neves artificiais e outras características de nossos primos
ricos consumistas do Norte, que vivem a entrada do inverno e nós aqui a entrada
do verão, eu até engulo. (Apesar de minha amiga conspiradora Tina ter me
informado que há três anos nunca o natal norte-americano esteve tão sem enfeites. E saiba que
ela se referia ao dinheiro particular dos negociantes).
Mas com o dinheiro do público
brasileiro? No século XXI? Será que é este o desejo do nosso povo: viver como
os americanos do norte?
Enquanto você lê esta minha
mensagem de natal estarei, com meu Google teacher, treinando para dizer hoje à
noite às pessoas que eu encontrar pela Paulista Street:
“Sing for the Savior
has come! And He will be called Wonderful Counselor, Mighty God,
Everlasting Father, Prince of Peace! Marry Christmas!”
Everlasting Father, Prince of Peace! Marry Christmas!”
Enquanto não me aculturei e ainda
sou MONOGLOTA vou desejar a cada um de nós BOAS FESTAS e: Que Deus nos auxilie
a continuar construindo, neste 2014, uma Mudança na Escola, uma Melhora na Educação
e uma Transformação em nosso querido País!
excelente!!!
ResponderExcluirMuito bom mesmo e a pura realidade dessa mascaragem socio-cultural-pulbico-politica-ineducacional
ResponderExcluirSua reflexão me fez voltar ao tempo, ao Oswald de Andrade e seus Manifestos 'Antropofágico' e da 'Poesia Pau-Brasil', além do Abaporu, da Tarsila do Amaral!
ResponderExcluirAssim como o sabiá, do Gonçalves Dias e da Aquarela, do Ary Barroso!!!
Que a grandeza desse país desperte em brava gente brasileira!!!
Um Natal de harmonia e um 2014 de muita construção!
Um afetuoso abraço!
NILCE
Querida Nilce, sua resposta completa maravilhosamente minha pequena reflexão. Beijos e obrigada por acrescentar....acrescentar...
ExcluirElyPaschoalick
muito bom!
ResponderExcluirEly,
ResponderExcluirSua reflexão me fez voltar ao tempo, ao Oswald de Andrade e seus Manifestos 'Antropofágico' e da 'Poesia Pau-Brasil', além do Abaporu, da Tarsila do Amaral!
Assim como o sabiá, do Gonçalves Dias e da Aquarela, do Ary Barroso!!!
Que a grandeza desse país desperte em brava gente brasileira!!!
Um Natal de harmonia e um 2014 de muita construção!
Um afetuoso abraço!
Nilce C. Muniz Barretto
Minha amiga Suely Costa enviou-me este conto que complementa a reflexão de Natal:
ResponderExcluirNatal na Ilha do Nanja
Cecília Meireles
Na Ilha do Nanja, o Natal continua a ser maravilhoso. Lá ninguém celebra o Natal como o aniversário do Menino Jesus, mas sim como o verdadeiro dia do seu nascimento. Todos os anos o Menino Jesus nasce, naquela data, como nascem no horizonte, todos os dias e todas as noites, o sol e a lua e as estrelas e os planetas. Na Ilha do Nanja, as pessoas levam o ano inteiro esperando pela chegada do Natal. Sofrem doenças, necessidades, desgostos como se andassem sob uma chuva de flores, porque o Natal chega: e, com ele, a esperança, o consolo, a certeza do Bem, da Justiça, do Amor. Na Ilha do Nanja, as pessoas acreditam nessas palavras que antigamente se denominavam "substantivos próprios" e se escreviam com letras maiúsculas. Lá, elas continuam a ser denominadas e escritas assim.
Na Ilha do Nanja, pelo Natal, todos vestem uma roupinha nova — mas uma roupinha barata, pois é gente pobre — apenas pelo decoro de participar de uma festa que eles acham ser a maior da humanidade. Além da roupinha nova, melhoram um pouco a janta, porque nós, humanos, quase sempre associamos à alegria da alma um certo bem-estar físico, geralmente representado por um pouco de doce e um pouco de vinho. Tudo, porém, moderadamente, pois essa gente da Ilha do Nanja é muito sóbria.
Durante o Natal, na Ilha do Nanja, ninguém ofende o seu vizinho — antes, todos se saúdam com grande cortesia, e uns dizem e outros respondem no mesmo tom celestial: "Boas Festas! Boas Festas!"
E ninguém, pede contribuições especiais, nem abonos nem presentes — mesmo porque se isso acontecesse, Jesus não nasceria. Como podia Jesus nascer num clima de tal sofreguidão? Ninguém pede nada. Mas todos dão qualquer coisa, uns mais, outros menos, porque todos se sentem felizes, e a felicidade não é pedir nem receber: a felicidade é dar. Pode-se dar u ma flor, um pintinho, um caramujo, um peixe — trata-se de uma ilha, com praias e pescadores ! — uma cestinha de ovos, um queijo, um pote de mel... É como se a Ilha toda fosse um presepe. Há mesmo quem dê um carneirinho, um pombo, um verso! Foi lá que me ofereceram, certa vez, um raio de sol!
Na Ilha de Nanja, passa-se o ano inteiro com o coração repleto das alegrias do Natal. Essas alegrias só esmorecem um pouco pela Semana Santa, quando de repente se fica em dúvida sobre a vitória das Trevas e o fim de Deus. Mas logo rompe a Aleluia, vê-se a luz gloriosa do Céu brilhar de novo, e todos voltam para o seu trabalho a cantar, ainda com lágrimas nos olhos.
Na Ilha do Nanja é assim. Arvores de Natal não existem por lá. As crianças brincam com. pedrinhas, areia, formigas: não sabem que há pistolas, armas nucleares, bombas de 200 megatons. Se soubessem disso, choravam. Lá também ninguém lê histórias em quadrinhos. E tudo é muito mais maravilhoso, em sua ingenuidade. Os mortos vêm cantar com os vivos, nas grandes festas, porque Deus imortaliza, reúne, e faz deste mundo e de todos os outros uma coisa só.
É assim que se pensa na Ilha do Nanja, onde agora se festeja o Natal.
Texto extraído do livro “Quadrante 1”, Editora do Autor – Rio de Janeiro, 1966, pág. 169.
Belíssima reflexão Ely, muito obrigado pela provocação!!
ResponderExcluirSanto e belo Natal e um 2014 repleto de saúde e paz!!
Dener
Muito bom Ely. Grato pela provocação. Ótimo também o comentário "A Ilha do Nanja". Abraços conspiradores e co inspiradores.
ResponderExcluirQue neste 2014 possamos conspirar muito a favor da educação pública brasileira.
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