Logo pela manhã recebi, em meu whatsapp, uma mensagem que me
solicitava um comentário sobre minha opinião a respeito das mudanças do Ensino Médio.
A mensagem dizia:
“Oi Ely, o MEC divulgou hoje,
mudanças no currículo do ensino médio e enalteceu a importância de melhorar a
formação do professor. A mudança do
currículo, pelo que entendi , seria dividi-lo em duas etapas : a 1ª seria comum
a todos e a 2ª poderia ser escolhida pela aptidão do aluno, entre humanas e
exatas. Muito parecido como era no nosso tempo em que escolhíamos entre
científico , clássico e escola normal. Só que agora estão propondo uma primeira
etapa única antes da escolha por aptidão.
O que vc acha ? Seria uma volta ao passado ? Como foi o fim da aprovação
automática ? Eu sinceramente pensei que eles fossem mexer antes, no currículo do Fundamental. Bjs”
Já que você me faz muitas perguntas em um só texto vou
procurar lhe explanar meu ponto de vista:
1-Toda mudança sob decreto é ditadura e isto não me agrada. Alguns
dizem que o decreto era a única maneira do Senado e população discutirem... Que
absurdo! É lógico que não, se uma mudança de lei seguisse os caminhos da
democracia é que seus quesitos seriam amplamente discutidos. Aliás, esta necessidade
vem desde que o Brasil condena ao Vale do NEM (nem trabalha e nem estuda) dois
milhões de jovens por ano e a discussão vem desde o governo Dilma
https://m.youtube.com/watch?sns=fb&v=cpkZ597aw_o , a urgência agora está justificada no item 2
a saber:
Há pouco mudaram até a lei da proporcionalidade de quotas
estrangeiras diminuindo a exigência das quotas nacionais. A última negociação
foi com a gráfica Editora Saraiva e falaram publicamente e claramente que era
um passo muito importante para apostilar as universidades.
3- Quem está por trás deste decreto e que já vinha há tempos
estudando e discutindo com os educadores sobre “idade certa para alfabetização”,
“currículo único da educação” e outras políticas públicas é o movimento <Todos
pela Educação> que é financiado pelos cinco maiores bancos do Brasil,
demonstrando mais uma vez que o interesse é comercial e não pedagógico.
4- Quem exige o aumento da carga horária de meio período
para período integral é o Banco Mundial e VAI TER QUE SER E PONTO. O que os
políticos criaram depois de muito pensar sobre como fazer esta mudança gastando
o mínimo possível, criaram um PNE (Plano Nacional de Educação ) onde além de
determinar que período integral é composto por 6 horas; criou a estratégia de
fazer aos poucos ou seja 105 para o ano de x, y% para o ano de ... até que em
2027 prometemos ter todos estudando em período integral de seis horas.
Até lá a ideia governamental é usar voluntários, no Fundamental
usam o dinheiro do + educação; do + cultura e agora, pelo menos no estado de
Minas, contrataram oficineiros e proibiram fazer reforço ou lição de casa no
contra turno, mesmo de 8 horas, com a justificativa de que cansa os meninos,
porém assim não precisa de ter professores, basta cuidadores. Então sobre período
integral penso que o governo vai gastar
talvez em refeitório e comida porque para as duas horas a mais vai colocar
horário de refeição descanso e uma Oficina de preferência com voluntários. Mais
ou menos como fizeram no tempo dos oito anos do fundamental virarem nove.
Trocaram apenas o nome.
5- Falando em voluntários, outro dia em visita a uma escola
técnica profissionalizante de São Paulo, o coordenador me explicava que era
muito difícil poder contratar alguém para as Oficinas de jardinagem,
carpintaria, aquecimento solar, pois os que sabiam não eram formados e os que
eram formados não sabiam ou não queriam dar jardinagem. Com esta medida provisória
a problemática deste coordenador de não poder dar, com dinheiro público, uma “ajuda
de custo” ou um “agrado” ao jardineiro que virou professor, sabem porque?
Porque a medida provisória introduz o “notório saber”. Será possível contratar
professores que tenham “notório saber” em determinada área do conhecimento,
mesmo que não seja formado na área.
E mais uma vez os professores são aviltados, desvalorizados,
substituídos... Ai,ai,ai! Me lembrei de uma certa propaganda onde o homem que
estava em uma arquibancada torcendo em um jogo de futebol descia da arquibancada
e de repente estava dentro de uma quadra de esporte dando aula de educação
física e aparecia um “@amigos da escola” . Então, relembrou? Era uma propaganda
de um dos Bancos que patrocina o “Todos pela Educaçao”.
5- A ideia defendida pela medida provisória é entre o
primeiro ano e o segundo, ou após seis meses, fazer um redirecionamento para
universidades ou cursos técnicos. Será que não anteciparão o inferno que é o
vestibular para estes adolescentes? Terão nossos meninos de 14,15 anos
maturidade para escolher se vão para curso técnico ou para universidade.
Nosso consolo é que na Alemanha tal direcionamento é feito aos
9 anos o que corresponde a uma condenação: condenar o alemãozinho a ir para uma
universidade ou ser um técnico a partir de sua performance na infância. Triste
herança do seletivo Hitler. Aqui pelo menos a desilusão será aos 15 anos juntinho
com a condenação para ter um ensino superior ou técnico.
6- O MEC dar ênfase a formação do professor é bem
compreensível pois na compra da Saraiva foi publicado que o interesse era APOSTILAR
os cursos universitários como já se faz em várias franquias como por exemplo na
Estácio de Sá que é uma universidade de grupo estrangeiro.
7- Acabar com a Educação Física e Artes dos adolescentes é
acabar com as habilidades, criatividade
e sensibilidade dos estudantes. Ainda mais os adolescentes que tanto gostam de
teatralizar, cantar, correr, jogar...
Justificaram que nem todas as escolas estão preparadas para
a prática esportiva e não ministram a carga horária necessária a estas
matérias. Fiquei pensando que é quase a mesma coisa de uma assistente social solicitar
o CORTE DA ÁGUA de uma casa onde os membros da família estão adoentados porque não
tomam banho e nem escovam os dentes ...
É o FEBEAP Festival de Besteiras que Assola o Pais.
E o que é pior, assola o país de Paulo Freire, esta pátria que
continua com o impassível busto de bronze do professor mundialmente
reconhecido, que com seus olhos profundos contempla tudo da porta do prédio do
MEC em Brasília.
CONCLUINDO: continua tudo na mesma! Menos, é claro o bolso
dos proprietários da Time e outras publicações internacionais juntamente com os
daqueles animaizinhos que o Jô Soares carregava dentro de uma gaiola na década
de oitenta, no Viva o Gordo, o corrupto. NÃO BASTA COMBATER A CORRUPÇÃO, É
PRECISO PREVENI-LA.
As medidas deste
DECRETO são medidas que chamo de "colocar o glacê no bolo e alguns
moranguinhos”.
O problema é que o bolo da educação está velho,
embolorado, solado e apodrecido pela
divisão de séries, faixa etária, aula frontal onde o centro é o professor,
aulas coletivas, conteúdos fragmentados impostos e separados, estudos impostos
e objetivando aprovação em provas externas e todas as amarras que fizeram e vêm
fortalecendo os nós que amarram e prendem os estudantes, desde o século XVIII –
XIX aos moldes do exército da Prússia, criando soldados que não pensam e
obedecem, obedecem, obedecem.
Para mim, este decreto é apenas mais um passo ditatorial que
afastará o estudante do prazer de estudar e da capacidade de pensar.
Meu consolo é que nesta semana estaremos reunindo mães com
filhos pequenos que não querem seus filhos com dor de barriga e vômito cultural
porque comeram deste bolo envelhecido e iremos, com elas, construir uma
Comunidade de Aprendizagem.
Somos Românticos Conspiradores e cremos que ainda há esperança para construir o novo anunciado no
III Manifesto pela Educação: Mudar a Escola, Melhorar a Educação, Transformar
um País.
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ElyPaschoalick