Pergunto estarrecida: como podem
decepar alguém ou alguma coisa com uma canetada?
Sim, é possível!
Os vereadores de
Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul (estado fundado no período da
ditadura militar-1977) se reuniram em março de 2016 e colocaram uma mordaça na
boca dos professores reduzindo-os a simples repetidores conteudistas,
decretando a proibição de ser colocado em conversa dentro do recinto escolar
política, religião e gênero (novo apelido do sexo).
Por incrível que pareça, na
“Cidade Morena” não se pode falar que Jovens negros são as principais vítimas
da violência e têm 2,5 vezes mais chances de serem assassinados no Brasil do
que jovens brancos; na cidade mais arborizada do Brasil não se pode falar de
políticas públicas, e aí por diante, bota incrível nisto!
Mas, incrível mesmo é deceparem o
famosíssimo trabalho realizado por Jaques Delors, a mando da UNESCO, no final
do século XX sobre as tendências educacionais na educação do mundo (menos em
Campo Grande) para o século XXI,
conhecidos e defendidos mundialmente como os 4 Pilares da Educação: Aprender a
SER, a CONVIVER, a APRENDER e a FAZER.
Tudo indica que os dois primeiros
foram abolidos por unanimidade pela Câmara Municipal de Campo Grande, pois como
ensinar a SER GENTE e a CONVIVER com gente se não podemos conversar sobre o que
gente é, sente, pensa, faz, crê...
A lei municipal que será
obrigatoriamente exposta em local visível em todos os estabelecimentos de
ensino seja ele público ou privado do município de Campo Grande (700 mil
habitantes), tem em seu quarto artigo as palavras "justa - profundidade e
seriedade" descritas em texto tão subjetivo que haveria necessidade de
amplo debate entre juristas, mestres educacionais, teólogos, psicólogos,
matemáticos, cientistas e sociólogos para que as mesmas fossem quantificadas de
maneira a serem consideradas exatas apresentando um mínimo de equidade,
neutralidade ou imparcialidade: "IV - Ao tratar de questões políticas,
sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma
justa – isto é, com a mesma profundidade e seriedade –, as principais versões,
teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito".
Pensarão estes nobres vereadores que professores
e alunos já são robôs?
Oriento a estes pobres
professores que filmem suas aulas e suas conversas com os alunos para que
possam ter direito a ampla defesa se punidos forem por esta lei que, coincidentemente, foi aprovada no dia em que se comemora em nossa Nação a implantação da Ditadura
Militar popularmente conhecida como “Revolução Redentora”.
Será que esta será uma tendência
mundial? Campo Grande que é descrito na Wikipédia como local de maior
influência cultural da região terá mesmo este poder de liderança?
Epa, pera aí, falar em liderança
num ambiente onde é proibido conversar outros assuntos que não sejam
matemática, geografia, português, ciências, história; epa! Ensinar ciências sem
falar em hipóteses? História sem falar em política... Acho que os professores
de lá precisarão desenvolver uma inteligência analógica extraordinária para
conseguirem esta façanha histórica.
Se eles puxaram a inteligência
dos vereadores isto vai ser fácil, pois os mesmos aproveitaram e colocaram na
mesma lei da mordaça a questão religiosa da criação do mundo, proibindo o
ensino do evolucionismo aos estudantes, fato que muito agrada aos religiosos
que pretendem fazer da religião um ópio para o povo. Ao contrário dos
religiosos que respeitam e praticam o que está escrito em Romanos capítulo 12versículo 1 e estimulam seus fieis a estudarem profundamente teologia.
E para os vereadores conquistarem
os votos dos considerados por eles como "pessoas que respeitam a
família" e angariarem os votos dos religiosos, dão o golpe de
misericórdia, alegando que permitirão orações consideradas universais como o decorado
“Pai e Nosso”.
Como estes nobres senhores não
sabem nem sequer o significado da expressão “universal às religiões”.
Conhecerão eles a Constituição
Brasileira?
Pois é, muita gente ainda confunde "Política" com politicagem ou politiquinha pseudo-partidária que, essa sim não tem sentido o professor se posicionar (enquanto docente), embora possa, se quiser, se posicionar enquanto cidadão (fora do contexto de "cátedra"). Mas ensinar história sem "Política"? Isso é ridículo! Significa, por exemplo, que não se poderia dar o capítulo da Revolução Francesa que retoma a Democracia, as razões pelas quais Cabral descobre o Brasil, nem muito menos falar de Tiradentes, pra dizer o mínimo. Gostaria muitíssimo de saber qual parte da História poderia ser abordada sem se falar em Política! Para não falar de Sociologia, de Filosofia, de Ciências, de Geografia... Incrível ignorância!
ResponderExcluirGrata por enriquecer este artigo com seus comentários. Se fosse apenas pela politicagem partidária, já há uma constituição que impede, mas estes legisladores nem sequer conhecem ou fingem conhecer, a Constituição, uma vez que legislam sobre ela como se fosse necessário validar suas leis em cada estado ou município. Haja visto como exemplo a "lei da palmada" que além de chover no molhado ainda fez a confusão social de, graças ao apelido, os pais confundirem palmadas com espancamento ou palmatória, considerando que está condenado dar uma palmada no próprio filho. É um des-serviço des-necessário e des-gastante. E ainda por cima com salários altíssimos a suas excelências e seus assessores.
ExcluirGente, ontem, domingo, dia 22 de maio em horário nobre do Fantástico, o novo ministro da educação do DEM disse que o departamento jurídico do MEC está estudando parecer sobre estas leis que estão sendo aprovadas ou dando entrada em vários estados e municípios. Ainda bem que ele começou dizendo que não se pode tirar a liberdade do professor... Vejamos e acompanhemos...
ResponderExcluirParabéns pelo texto Ely. Abraços
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