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domingo, 22 de maio de 2016

CANETADA DECEPA JAQUES DELORS - LEI DA MORDAÇA

Pergunto estarrecida: como podem decepar alguém ou alguma coisa com uma canetada?

Sim, é possível! 
Os vereadores de Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul (estado fundado no período da ditadura militar-1977) se reuniram em março de 2016 e colocaram uma mordaça na boca dos professores reduzindo-os a simples repetidores conteudistas, decretando a proibição de ser colocado em conversa dentro do recinto escolar política, religião e gênero (novo apelido do sexo). 



Por incrível que pareça, na “Cidade Morena” não se pode falar que Jovens negros são as principais vítimas da violência e têm 2,5 vezes mais chances de serem assassinados no Brasil do que jovens brancos; na cidade mais arborizada do Brasil não se pode falar de políticas públicas, e aí por diante, bota incrível nisto!
Mas, incrível mesmo é deceparem o famosíssimo trabalho realizado por Jaques Delors, a mando da UNESCO, no final do século XX sobre as tendências educacionais na educação do mundo (menos em Campo Grande)  para o século XXI, conhecidos e defendidos mundialmente como os 4 Pilares da Educação: Aprender a SER, a CONVIVER, a APRENDER e a FAZER.
Tudo indica que os dois primeiros foram abolidos por unanimidade pela Câmara Municipal de Campo Grande, pois como ensinar a SER GENTE e a CONVIVER com gente se não podemos conversar sobre o que gente é, sente, pensa, faz, crê...
A lei municipal que será obrigatoriamente exposta em local visível em todos os estabelecimentos de ensino seja ele público ou privado do município de Campo Grande (700 mil habitantes), tem em seu quarto artigo as palavras "justa - profundidade e seriedade" descritas em texto tão subjetivo que haveria necessidade de amplo debate entre juristas, mestres educacionais, teólogos, psicólogos, matemáticos, cientistas e sociólogos para que as mesmas fossem quantificadas de maneira a serem consideradas exatas apresentando um mínimo de equidade, neutralidade ou imparcialidade: "IV - Ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a mesma profundidade e seriedade –, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito".


                              Pensarão estes nobres vereadores que professores e alunos já são robôs?

Oriento a estes pobres professores que filmem suas aulas e suas conversas com os alunos para que possam ter direito a ampla defesa se punidos forem por esta lei que, coincidentemente, foi aprovada no dia em que se comemora em nossa Nação a implantação da Ditadura Militar popularmente conhecida como “Revolução Redentora”.
Será que esta será uma tendência mundial? Campo Grande que é descrito na Wikipédia como local de maior influência cultural da região terá mesmo este poder de liderança?
Epa, pera aí, falar em liderança num ambiente onde é proibido conversar outros assuntos que não sejam matemática, geografia, português, ciências, história; epa! Ensinar ciências sem falar em hipóteses? História sem falar em política... Acho que os professores de lá precisarão desenvolver uma inteligência analógica extraordinária para conseguirem esta façanha histórica.
Se eles puxaram a inteligência dos vereadores isto vai ser fácil, pois os mesmos aproveitaram e colocaram na mesma lei da mordaça a questão religiosa da criação do mundo, proibindo o ensino do evolucionismo aos estudantes, fato que muito agrada aos religiosos que pretendem fazer da religião um ópio para o povo. Ao contrário dos religiosos que respeitam e praticam o que está escrito em Romanos capítulo 12versículo 1 e estimulam seus fieis a estudarem profundamente teologia. 

E para os vereadores conquistarem os votos dos considerados por eles como "pessoas que respeitam a família" e angariarem os votos dos religiosos, dão o golpe de misericórdia, alegando que permitirão orações consideradas universais como o decorado “Pai e Nosso”.
Como estes nobres senhores não sabem nem sequer o significado da expressão “universal às religiões”.
Conhecerão eles a Constituição Brasileira?



4 comentários:

  1. Pois é, muita gente ainda confunde "Política" com politicagem ou politiquinha pseudo-partidária que, essa sim não tem sentido o professor se posicionar (enquanto docente), embora possa, se quiser, se posicionar enquanto cidadão (fora do contexto de "cátedra"). Mas ensinar história sem "Política"? Isso é ridículo! Significa, por exemplo, que não se poderia dar o capítulo da Revolução Francesa que retoma a Democracia, as razões pelas quais Cabral descobre o Brasil, nem muito menos falar de Tiradentes, pra dizer o mínimo. Gostaria muitíssimo de saber qual parte da História poderia ser abordada sem se falar em Política! Para não falar de Sociologia, de Filosofia, de Ciências, de Geografia... Incrível ignorância!

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    1. Grata por enriquecer este artigo com seus comentários. Se fosse apenas pela politicagem partidária, já há uma constituição que impede, mas estes legisladores nem sequer conhecem ou fingem conhecer, a Constituição, uma vez que legislam sobre ela como se fosse necessário validar suas leis em cada estado ou município. Haja visto como exemplo a "lei da palmada" que além de chover no molhado ainda fez a confusão social de, graças ao apelido, os pais confundirem palmadas com espancamento ou palmatória, considerando que está condenado dar uma palmada no próprio filho. É um des-serviço des-necessário e des-gastante. E ainda por cima com salários altíssimos a suas excelências e seus assessores.

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  2. Gente, ontem, domingo, dia 22 de maio em horário nobre do Fantástico, o novo ministro da educação do DEM disse que o departamento jurídico do MEC está estudando parecer sobre estas leis que estão sendo aprovadas ou dando entrada em vários estados e municípios. Ainda bem que ele começou dizendo que não se pode tirar a liberdade do professor... Vejamos e acompanhemos...

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